Étipo - Volume I: Materialização - A Côr Negra
Encontrei uma preta,
Chorar não sabia.
Contei-lhe uma peta...
Foi nadar para a Ria!
Para branca não mudou.
Mais preta ficou.
Pediu para não lhe chamar preta...
Na areia se sentou.
Negra lhe chamei,
Da cor do carvão.
Mas ela queria ser branca...
Da cor do seu meio-irmão.
Fui á fábrica das tintas,
Comprar tinta branca.
Pintei-a toda.
Ficou a secar em cima da banca.
No outro dia de manhã,
Fui lá ver como ela estava.
Estava dura como uma pedra!
Nem o cabelo abanava!
Fui á fábrica dos químicos,
Comprar diluente.
Tinha acabado de sair o pão...
Até estava quente!
Logo me enganei,
Pois não fui á tal fábrica...
Fui parar
À padaria da Abraica!
Comprei um mapa,
Para não me enganar.
Cheguei lá num instante,
Comprei tanto quanto pude pagar.
Quando cheguei a casa,
Ela estava lá quietinha.
Encharquei-a de diluente...
Até ela ficar de novo pretinha.
Começou a chorar...
Afinal ela sabia!
Comecei a pensar...
Em ir pescar para a Ria.
Senti uma fome...
De pensar em peixe.
Convidei-a para almoçar,
Ela disse que queria pagar.
Fomos a Londres.
(É um bocadinho longe)
Ela é que escolheu,
Um snack-bar com um monge.
Comemos bem,
Era um bocadinho caro.
Voltámos para cá...
Em cima de um centauro.
Tudo eu fiz.
Para ela ser branca.
E depois percebi...
Que devo ter uma panca!
Ela sempre foi negra,
Não era agora que ia mudar!
Branco ou preto não importa,
O que interessa é saber amar.
A Natureza faz as leis,
Que não podemos violar.
Não podemos é desprezar,
Aqueles que com outra cor,
Para sempre vão ficar.